sábado, 28 de dezembro de 2013

All Of Me...


"Comecei a amar-te no dia em que te abandonei.

Foram as palavras dele quando, dez anos depois, a encontrou por mero acaso no café. Ela sorriu, disse-lhe “olá, amo-te” mas os lábios só disseram “olá, está tudo bem?”. Ficaram horas a conversar, até que ele, nestas coisas era sempre ele a perder a vergonha por mais vergonha que tivesse naquilo que tinha feito (como é que fui deixar-te? como fui tão imbecil ao ponto de não perceber que estava em ti tudo o que queria?), lhe disse com toda a naturalidade do mundo que queria levá-la para a cama. Ela primeiro pensou em esbofeteá-lo e depois amá-lo a tarde toda e a noite toda, de seguida pensou em fugir dali e depois amá-lo a tarde toda e a noite toda, e finalmente resolveu não dizer nada e, lentamente, a esconder as lágrimas por dentro dos olhos, abandonou-o da mesma maneira que ele a abandonara uma década antes. Não era uma vingança nem sequer um castigo – apenas percebeu que estava tão perdida dentro do que sentia que tinha de ir para longe dali para ir para dentro de si. Pensou que provavelmente foi isso o que lhe aconteceu naquele dia longínquo em que a deixara, sozinha e esparramada de dor, no chão, para nunca mais voltar.


De tudo o que amo és tu o que mais me apaixona.

Foram as palavras dela, poucos minutos depois, quando ele, teimoso, a seguiu até ao fundo da rua em hora de ponta. Estavam frente a frente, toda a gente a passar sem perceber que ali se decidia o futuro do mundo. Ele disse: “casei-me com outra para te poder amar em paz”. Ela disse: “casei-me com outro para que houvesse um ruído que te calasse em mim”. Na verdade nem um nem outro disseram nada disso porque nem um nem outro eram poetas. Mas o que as palavras de um (“amo-te como um louco”) e as palavras de outro (“amo-te como uma louca”) disseram foi isso mesmo. A rua parou, então, diante do abraço deles."

 Pedro Chagas Freitas
in "O Livro dos Loucos"

Não... Está não é a nossa história porque não se passou uma década, foram (“SÓ”) quase três anos que para mim foram e ainda são eternidade, também não me casei para que "houvesse um ruído que te calasse em mim", naveguei mundo, tentei "matar" a esperança de um amar, na ingénua fé de te exorcizar, fiz jura de te esquecer e de te perdoar… Na verdade perdoei, mas não te amo como te amava, sem o saber, naquela noite fria e escura onde começamos o nosso mau hábito de fechar as “tascas” onde nos perdíamos em conversas soltas e sedentas nas quais os meus olhos te desafiavam e te diziam: “Não sei quem és, vais-me fazer mal… mas leva-me contigo!”

Os anos passaram… e ao te reencontrar os meus olhos sorriram, porque finalmente o meu coração encontrou paz. 

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